Postos tradicionais no Brasil se preparam para os carros elétricos
As companhias petrolíferas sabem que a matéria prima do seu produto é um recurso finito. Na Europa e Estados Unidos já é comum ver grandes empresas do ramo do petróleo demonstrando interesse e apoiando a mobilidade elétrica.
No Brasil, o cenário de carregadores elétricos ainda é impulsionado por fabricantes de automóveis que oferecem veículos elétricos e algumas parcerias de estabelecimentos, como shoppings, em regiões nobres que oferecem carregadores para seus clientes.
Partindo do princípio de alinhar sua operação com o futuro, a Raízen e a Plataforma Capital lideram um investimento de R$ 10 milhões na Tupinambá Energia, startup focada na operação de postos de recarga , com fornecimento de carregadores, softwares, aplicativos e serviços relacionados à recarga de veículos elétricos.
A Tupinambá oferece uma plataforma digital que integra uma rede de pontos de recarga e facilita a vida dos usuários de veículos elétricos , devido aos mais de mil carregadores registrados e seu sistema. Além disso, ainda oferece o diferencial de disponibilizar painéis publicitários em suas estações.
Esse investimento da Raízen na Tupinambá pode render à Shell, que é representada no Brasil pela Raízen, seus primeiros eletropostos no país e alinhar o mercado brasileiro com outras praças da Shell ao redor do mundo.
Embora o carro chefe da Raízen seja o etanol , a empresa imagina que o combustível poderá continuar sendo utilizado no Brasil juntamente com outras fontes de energia renováveis.
Conforme Rafael Rebello, diretor de Soluções de Energia e Renováveis da Raízen, “o etanol é e continuará a ser protagonista na transição energética , pois é um combustível de fácil implementação em veículos leves e com infraestrutura já estabelecida”.
Ainda segundo Rebello, “há diversas empresas interessadas em compor uma frota com veículos a etanol e elétricos , e a Raízen está pronta para atendê-los. Nosso objetivo é ser líder na oferta de infraestrutura de recarga com energia renovável”, completou o executivo.
A meta da Shell é instalar cerca de 2,5 milhões de carregadores em todo o mundo até 2030. Na Argentina, onde também é representada pela Raízen, a Shell deverá ter seu primeiro carregador nos próximos meses, apesar de ter um mercado de híbridos e elétricos menor que o brasileiro.
Para efeito de comparação, em 2020 e 2021, a soma de elétricos e híbridos vendidos na Argentina foi de 8.254 veículos, o mercado brasileiro vende anualmente uma quantidade maior desde 2019, e superou esse número no primeiro trimestre de 2022.
Em outros países, principalmente na Europa, a Shell já oferece uma estrutura mais robusta, como acontece na Inglaterra, onde recentemente foi inaugurado o “Shell EV Hub”, um centro de recarga para veículos elétricos com 12 carregadores.
Construído onde funcionava um posto de gasolina e diesel da própria companhia, o eletroposto conta com nove carregadores ultra-rápidos do tipo CCS, e três do tipo ChaDeMo, e ainda tem com um espaço de conveniência, onde clientes podem esperar enquanto seus veículos carregam.
No Reino Unido esse movimento faz sentido, já que entre janeiro e abril deste ano, já haviam sido vendidos 77 mil veículos 100% elétricos por lá (ante 12.976 no Brasil).
Para Clemente Gauer, advisor da Tupinambá Energia , um movimento parecido com o realizado pela Shell em Londres não é algo muito distante da realidade brasileira. “Observamos o sucesso das estações rápidas em metrópoles como São Paulo sempre com baixíssima ociosidade”, comentou Gauer.
“As estações de recarga rápida nas cidades serão pontos estratégicos para um bom café e uma breve pausa de 10 minutos, tempo este, hoje já mais que suficiente para se percorrer uma centena de quilômetros”, completou ele.
Para Rebello, da Raízen, a situação é mais complexa, e a instalação de pontos de recarga demandará muito estudo sobre a necessidade dos clientes de cada localidade. “As necessidades dos consumidores de veículos elétricos são diferentes dos de combustível líquido. É preciso fazer uma análise cuidadosa sobre os diferentes momentos de abastecimento e demandas de cada região”, disse o executivo.
Hoje a Shell conta com uma estrutura de mais de seis mil postos de combustíveis em todo o Brasil e instalar pelo menos um carregador elétrico em cada posto poderia acelerar a adesão à mobilidade elétrica no país, mas Gauer acredita que os estabelecimentos irão responder à demanda, e não se antecipar a ela.
“O custo de uma estação de carga rápida ainda é elevado e a infraestrutura elétrica em algumas localidades pode encarecer o projeto. Porém, a medida que a frota se converter à energia elétrica, os postos farão o mesmo. Enxergamos este movimento na Europa, especialmente na Noruega e sabemos que o mesmo deverá acontecer no Brasil, concluiu o executivo da Tupinambá. Para Rebello, a dificuldade é conciliar o formato que os postos tradicionais possuem, com o formato que os elétricos necessitam. “Após definir o local que irá oferecer a melhor experiência para os clientes de veículos elétricos , a principal barreira é conciliar o formato do posto convencional com as vagas para recarga elétrica e a capacidade de carga elétrica local”, explicou ele. Porém, Rebello afirma que a Raízen e Shell irão usar da expertise adquirida em outros mercado para implementar da melhor forma sua estrutura no Brasil. “Estamos reunindo aprendizados de mercados globais em que a Shell atua que serão facilmente replicados, otimizando a implementação de pontos de recarga”, revelou.
A eletrificação dos veículos é tendência no mundo inteiro, seja por desejo de clientes ou pressão de governos por medidas ambientais mais restritivas. O aumento de número de eletrificados mostra que a tendência também chegou ao Brasil , mas ainda é muito distante do grande público. Você, leitor, acredita que o Brasil terá algum dia um grande número de eletrificados pelas ruas?