Produção de veículos cai 31,6%, pior resultado em 16 anos
Com os impactos da pandemia causada pelo novo coronavírus, a Anfavea (Associação Nacional das Fabricantes de Veículos Automotores) divulga que a produção caiu 31,6% em 2020, recuando 16 anos. As fabricantes esperam recuperação de 25% em 2021 no que se refere à produção. Com isso o Brasil cai para 9º lugar no ranking mundial.
Segundo a Anfavea, a pandemia interrompeu o ciclo de três anos de recuperação da crise de 2015 e 2016, período marcado por moedas internacionais voláteis e impeachment. Antes do novo coronavírus se tornar um problema global, as fabricantes esperavam crescimento de 10% para 2020. As vendas ao mercado interno fecharam com 2.058.437 unidades, queda de 26,2%, recuando ao patamar de 2016, auge da última crise econômica brasileira.
A produção de automóveis teve queda de 31,6% em 2020, deixando a indústria com ociosidade técnica de quase 3 milhões de unidades. As exportações foram as piores desde 2002, marcando retrocesso de quase duas décadas.
A entidade avalia que atividades de agronegócio e vendas online evitaram que o segmento de caminhões registrasse uma queda maior. Segundo a associação, o segmento teve redução de 11,5% nos licenciamentos em 2020. Máquinas agrícolas venderam 7,3% a mais do que no ano passado, enquanto veículos comerciais leves caíram 16%.
Expectativa para 2021
A Anfavea prevê aumento de 15% no licenciamento de autoveículos, 9% nas exportações e 25% na produção, índices insuficientes para a retomada a patamares de antes da pandemia. Para máquinas agrícolas, a expectativa é de crescimento de 7% nas vendas, 9% nas exportações e 23% na produção.
Segundo Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, nunca foi tão difícil projetar resultados para um ano. “Temos uma neblina à nossa frente desde março, quando começou a pandemia. Infelizmente, observamos uma segunda onda de Covid-19 em países do hemisfério norte, que parece ter chegado também ao Brasil”.
Apesar do anúncio de eficácia da vacina produzida pelo Instituto Butantan, o executivo tem expectativas conservadoras. “Sabemos que a imunização será um processo demorado, que tomará quase o ano todo, impedindo uma retomada mais rápida da nossa economia”, afirma.
Ainda de acordo com Moares, “há também a pressão de custos, as necessidades urgentes de reformas e surpresas desagradáveis como o aumento do ICMS paulista, e temos diante de nós um quadro que ainda inspira muita cautela nas nossas previsões”.
Pelo visto, 2021 será um ano bem desafiador, com fragilidade no emprego, alta carga tributária, crise sanitária e problemas de logística. Mas o agronegócio e o aumento nas vendas de comerciais leves, puxado pela explosão de vendas do comércio eletrônico deverão ser dois fatores que vão ajudar o setor automotivo a ver uma luz no fim do túnel.
Mais desafios
Segundo a Anfavea, mesmo diante de vários obstáculos pela frente, as fabricantes não pretendem mais requerer adiamentos de outros itens de segurança, assim como aconteceu com o controle eletrônico de estabilidade (ESP), que era para ser obrigatório em todos os modelos a partir de 2022, mas acabou ficando para 2024.
Entre outros itens que estão previstos, está o alerta de frenagem de emergência, que deverá ser adotado pelas fabricantes em todos os modelos a partir de 2023 e algum item extra de visibilidade (câmera de ré ou sensores), em 2026 em diante.
Ainda existe a questão do Proconve P8 e L7, que trata do possível adiamento dos novos índices de emissões que no fim de 2018 foram regulamentados e agendados para entrar em vigor a partir de 2022. De acordo com a Anfavea, a decisão final sobre o adiamento ou não deverá sair entre um e dois meses.
A ideia de adiar a data de início nos novos índices foi colocado em pauta por causa da necessidade das fabricantes terem que introduzir tecnologias capazes de atender aos novos limites de emissões, cifra que as montadoras não teriam mais para investir após o aperto de caixa causado pela pandemia de coronavírus.