Os cachorros, apesar de irracionais, são muito inteligentes e vivem surpreendendo seus tutores com comportamentos quase humanos, já que são capazes de aprender vários comandos e algumas vezes parecem entender melhor do que outras pessoas. Por isso, é muito comum surgir dúvidas sobre como funciona a memória desses pets.
O especialista em comportamento canino, Leandro Mendes, explica que o olfato dos cães é um dos sentidos que está diretamente ligada à capacidade deles revisitarem memórias.
“Observem os cães de rua, eles estão praticamente o tempo todo em caça e ou em alerta de sobrevivência. Quando estão caçando, estão de focinho no chão e orelhas projetadas, os olhos estão focados na direção do cheiro. Por vezes, eles levantam a cabeça para sentir melhor o cheiro e prosseguem caçando”, diz o adestrador.
Mendes ainda afirma que “cães veem o mundo por meio dos cheiros”, e que seus sensores olfativos são dez vezes mais aguçados que os humanos.
“Para se ter uma ideia do poder do olfato canino, eles têm 300 milhões de sensores olfativos, enquanto nós seres humanos temos 30 milhões. É por isso que eles usam primeiramente o olfato para identificar, reconhecer e se lembrar de algo ou alguém”, comenta.
O comportamentalista ressalta também que os cães revivem o passado ou pensam no futuro e que são os gatilhos olfativos, auditivos e visuais que trazem a memória de episódios específicos. Por exemplo, quando ao longo do dia o cachorro destrói algum objeto dentro de casa, ele esquece da informação, mas ao ver tutor bravo, seu semblante, expressão e odor corporais tendem a mudar devido ao estresse.
“O cachorro percebe toda essa mudança e fica com a cara de culpado. No entanto, o animal só mudou sua reação porque seu tutor teve um comportamento diferente, e não por ter lembrado do fato ocorrido”, exemplifica Mendes.
Memória de associação de 15 segundos
Outro ponto importante sobre a memória dos amigos de quatro patas é que o tempo de associação canina é de 15 segundos. O especialista diz que o maior aprendizado que teve com os cães foi apreciar e vivenciar os momentos que estão acontecendo no presente, e não reviver o passado ou pensar no futuro.
“Em cada carinho, cheiro ou qualquer outro estímulo sentido, eles focam exatamente naquele momento. Sabendo disso, quanto mais rápido um comportamento for recompensado ou alertado – e o ideal é que seja dentro de 15 segundos -, o animal vai fazer uma associação positiva ou negativa àquele comportamento”, explica o especialista.
Leandro Mendes traz um exemplo prático de associação em 15 segundos: “Seu cão sobe no sofá e você deixa, ele aprende que subir é positivo. Mas, se em 15 segundos você o retira, ele também aprende que não pode e que é negativo subir”.
Contudo, o especialista enfatiza que, de qualquer forma, os cães têm memória de longo prazo, especialmente pelos gatilhos de sentidos. Para tornar mais claro, Mendes também traz um exemplo de memóra canina a longo prazo.
“Quando um cão reencontra uma pessoa que há muito tempo não via, ele tende a demorar para se lembrar, mas com o cheiro, o som da voz e por vezes só de ver, ele já se lembra da pessoa e demonstra toda felicidade”, diz.
Pesquisa sobre memória episódica
Segundo uma pesquisa feita pelo MTA – ELTE Comparative Ethology Research Group, em Budapeste, na Hungria, publicada em 2016 na revista científica Current Biology, os cães também conseguem se lembrar de eventos pontuais do passado, quando estimulados, mas esta memória costuma ser curta.
Para saber se o cachorro tem memória episódica, 17 animais de raças diferentes foram submetidos a uma série de testes, nos quais eram estimulados a repetir ações realizadas por seus tutores.
Nos resultados obtidos, 94,1% dos pets imitaram seus tutores quando ouviram a palavra “faça”, depois de um determinado tempo. Já 58,8% dos animais repetiram as ações um minuto após terem sido realizadas. Por fim, 35,3% conseguiram repetir o teste cerca de uma hora depois de terem aprendido. Foi possível concluir que, com o tempo, a memória dos cães ia diminuindo.
Mitos e verdades sobre a memória canina
Para facilitar a vida dos tutores de cães, e desmestificar algumas inverdades, o adestrador Leandro Mendes listou quatro mitos e verdades sobre a memória canina.
Cães sabem quando fizeram algo de errado
“É mito! Como falado antes, quando os cães mostram culpa por algo errado que fizeram, essa reação está mais ligada ao comportamento do tutor diante do fato do que à memória do cão em saber que fez algo de errado”, explica o especialista.
Cães não têm memória de longo prazo
“É mito! A memória de longo prazo dos cães é ativada a partir dos gatilhos sensoriais – principalmente o de olfato, mas também auditivo e o visual”, diz.
Memória dos cães também é ativada a partir do sentido gustativo
“Verdade! Assim como pelo olfato, audição e visão, os cães também podem se recordar de pessoas e situações a partir da degustação, ao lamber objetos, coisas e lugares, por exemplo”, explica.
Cães não sonham
“Mito! Eles sonham e é nítido. Assim como acontece com os seres humanos e em outros animais, o cérebro dos cães se mantém ativo durante o sono. Enquanto sonham, é possível que estejam se lembrando de alguma experiência que marcou o dia, por exemplo”, finaliza o adestrador.
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Fonte: IG PET