Leucemia felina não tem cura, mas é possível conviver; entenda como
O câncer é uma das doenças mais graves que pode atingir os seres vivos e, para os humanos, é fatal em muitos casos. Os animais, infelizmente, não estão livres de sofrer com a doença. Responsável por cerca de 30% dos óbitos entre gatos com algum tipo de vírus a FeLV (Feline Leukemia Virus), ou Leucemia Felina.
O vírus da leucemia felina é altamente contagioso, sendo transmitida de gato para gato – não apresenta riscos para seres humanos e outros animais. Conforme explica a médica veterinária Priscila Brabec, a transmissão pode ser feita pelo contato de um gato saudável com a saliva, fezes, urina ou leite de um felino infectado.
“Por isso, antes de introduzir um novo gato em casa é muito importante testar todos os gatos da casa e o novo morador antes de serem colocados juntos. Outro ponto importante é não deixar o gato com acesso à rua, isso pode ser muito perigoso se por um acaso ele brigar com algum outro gato que tenha FeLV, já que a transmissão também ocorre pela saliva”, alerta a veterinária.
Existem três variações da doença, sendo elas:
- Progressiva: quando tem o envolvimento da medula e com isso, ocorre uma viremia persistente que pode levar a infecções oportunistas, neoplasias, anemia, doença neurológica e enterite, por exemplo.
- Regressiva: o sistema imunológico consegue suprir a infecção viral antes que ocorra uma infecção significativa da medula óssea, contendo a replicação e disseminação do vírus.
- Latência: ocorre a infecção na medula óssea, porém o organismo é capaz de inativar o vírus, mas não de eliminá-lo, podendo haver reativação viral.
Os principais sintomas da FELV
Priscila lembra que o gato pode ter a leucemia viral felina e não manifestar sintomas por muito tempo (sendo assintomático), dependendo de sua condição. “O ‘gatilho’ para manifestação dos sintomas pode ser, por exemplo, alguma situação de estresse ou mesmo outra doença concomitante (imunossupressão). Os sintomas geralmente são: anemia, perda de peso, inflamações na região da boca, problemas respiratórios e apatia”.
A apresentadora Ana Xisdê, tutora do gato Boris, descobriu recentemente que o felino é FeLV positivo. O animal, porém, não apresentava nenhum sintoma, até ser acometido por outra doença que o fez ter mudanças de comportamento.
“O primeiro sinal clínico foi febre que, na verdade, foi o que nos fez levá-lo ao veterinário, porém, mesmo antes disso, já estávamos observando alguns sinais comportamentais, como a perda de peso, falta de apetite, menos disposição para brincar e até isolamento da família”, diz a tutora ao Canal do Pet.
O estresse pode piorar tudo
Juliana Damasceno , especialista em comportamento felino, reforça que com a leucemia o gato fica muito suscetível a ter qualquer outro tipo de questão clínica e que situações de estresse podem agravar a doença. “O estresse imunossuprime o animal e ele já é imunossuprimido por ter FeLV. Então é um gato que a gente precisa cuidar muito do ambiente social, do ambiente físico e dele ter estimulações e contatos positivos com os tutores, para evitar que ele sofra por estresse, porque ele sofrendo por estresse as chances de adoecer é muito grande”.
É muito importante que o diagnóstico seja feito precocemente, tanto para a FeLV quanto para a FIV (conhecida como a Aids felina). “Logo que a gente resgata ou adota o gato, é importante fazer o teste e, se esse gatinho for positivado, vai precisar de alguns cuidados típicos porque altera o padrão alimentar, de sono ou de atenção, para mais ou para menos”, explica Juliana. “Apatia é o gato deixar de interagir ou buscar estímulos favoritos, ou de responder a esses estímulos que antes eram os favoritos dele. O gato fica muito agitado, não consegue descansar o suficiente, se retrai e se esconde em locais como guarda-roupa, ou debaixo da cama, para se excluir do ambiente. Esses são sinais de que o gato está sofrendo por estresse”, completa.
Outros sinais que indicam o estresse felino são a eliminação em locais inadequados, vocalização excessiva, agressividade e agitação noturna, que também podem indicar que o gato está sofrendo com alguma outra doença, causada ou acentuada pelo estresse.
Os gatos podem demorar para demonstrar quaisquer sinais e, quando eles começam a exibir essas alterações comportamentais, significa que o estresse já se tornou crônico e está afetando o fisiológico e o emocional do animal.
“Então é importante trabalhar na prevenção para que esse gato não sofra por estresse. A gente precisa cuidar muito do convívio social dele com humanos e com outros animais”, indica a especialista. “Para introduzir outro gato no ambiente desse gatinho FeLV é imprescindível que haja uma adaptação e ainda precisamos entender se esse gatinho que vai ser introduzido é FeLV positivo ou não. Se não for, ele precisa do protocolo vacinal”, diz.
Leia Também
Leia Também
A vida após o diagnóstico positivo
Ana Xisdê conta que o diagnóstico de FeLV veio junto ao de uma infecção com a qual Bóris estava com dificuldades para combater. “O tratamento da própria infecção foi mais intenso por saber que, devido ao FelV, o sistema imunológico dele já estava debilitado”, diz a tutora.
Além do tratamento com antibióticos e remédios para ajudar no sistema imunológico, Boris também passou por uma adaptação alimentar (específica para gatos pouco nutridos) e intensos estímulos para que ele voltasse a se alimentar e se hidrata. “Às vezes dávamos direto na boca, por uma seringa, principalmente nos primeiros dias em que ele ainda se recusava a comer”, explica a tutora.
Juliana reitera a importância de haver uma mudança no ambiente do animal e também na rotina dos tutores, pois o gato precisa de estímulo em comportamentos de caça e um ambiente enriquecido, adequado para ele. “Se possível, é ainda melhor se o tutor puder buscar a ajuda de um comportamentalista felino, para que ele tenha mais orientações adequadas à personalidade do pet e, caso já esteja ocorrendo algum estresse no ambiente, que nós consigamos reverter para melhorar a qualidade de vida e o bem-estar do animal”, orienta a especialista.
A principal mudança, no caso de Bóris, que vive com mais dois gatos, veio pelo afastamento de seu convívio com os outros pets da casa. “O Tom, um dos nossos outros gatos, testou negativo para FelV, então precisamos afastar o Bóris dele. Agora, Bóris é mantido longe de outros gatos, mas assim que sua infecção foi tratada, ele voltou ao habitual de antes, dentro dos limites de sua idade”, conta a tutora.
FeLV não tem cura, mas é possível evitar e tem tratamento
Priscila Brabec ressalta as principais medidas que podem ser tomadas para a prevenção da leucemia felina.
O primeiro passo é que se leve sempre o gato ao médico veterinário para que ele seja testado. Sempre que o tutor decidir adotar um novo gato de estimação, esse felino também deve ser testado.
Jamais se deve permitir que o gato tenha acesso à rua – é sempre recomendado que se castre o animal, macho ou fêmea, e que se coloque telas para evitar fugas e as famosas “voltinhas” dos bichanos.
Mesmo incurável, é possível que o gato tenha uma vida normal e conviva com o vírus, desde que se siga o tratamento adequado. O tratamento geralmente é feito com o uso de antivirais e imunomoduladores – sempre seguindo a indicação de um médico veterinário.
A adaptação na casa de Bóris
Ana Xisdê diz que Bóris foi diagnosticado já em idade avançada e, como muitos gatos, sempre teve acesso à rua, por isso não se sabe ao certo quando o animal de estimação contraiu a doença.
“Ficamos sentidos por não conhecermos a doença antes dessa situação, mas felizes por termos condições de cuidar dele da melhor forma possível”, conta. Além de Bóris, Ana ainda tem em casa mais dois gatos, Tom e Ariel, sendo que um é FeLV negativo e outro também é positivo para o vírus.
“Tom, nosso outro gato, agora é mantido sozinho e aguarda o fim de seu processo de vacinação. Ariel, nosso terceiro gato que adotamos recentemente da rua testou positivo, porém não apresentou nenhum sinal da doença até o momento e vive uma vida normal, apenas longe de outros gatos e sem poder sair na rua, então sabemos que enquanto ele estiver vivo, provavelmente não adotaremos outro. A divisão da casa para manter os gatos FelV positivo separados do gato com FelV negativo não é fácil, mas fazemos o que é necessário para protegermos nossos bichinhos”, completa.